É a mac(r)acolândia!!!

ia de regra, não assisto a remakes de filmes ou séries, a não ser que eu não saiba que o são.

Se assisti ao original, não quero correr o risco de que a nova versão corrompa e macule a memória afetiva que guardo do primeiro – elas já me são tão poucas. Se não assisti ao primeiro, considero deslealdade para com os roteiristas, diretores e atores originais, eu ter como única referência uma provável diluição e mesmo distorção de seus trabalhos e conceitos.

Assim posto, entre vários exemplos que eu poderia relacionar, eu não assisti ao Planeta dos Macacos de 2001, do diretor Tim Burton, embora eu muito aprecie a estética sombria e doente dele.

Assisti ao primeiro Planeta dos Macacos, lançado em 1968; contava eu, então, com apenas um ano de idade. Contudo, como naquela época um filme levava anos para ser transposto das telonas em technicolor para as telinhas ainda em preto e branco, eu deveria ter meus 7 ou 8 anos quando o filme passou a ser exibido no Primeira Exibição, na Sessão Coruja, na Sessão da Tarde.

Estrelado pelo atlético, galante e machíssimo das antigas Charlton Heston, conta as peripécias de um astronauta que desembarca num planeta em que, talvez (não me lembro se havia alguma premissa “científica em relação a isso) a Evolução seguiu um caminho diferente e dotou gorilas e chimpanzés de grande inteligência, capacidade de fala e habilidades inventivas. Os humanos viviam presos e escravizados; comunicavam-se guturalmente.

Depois foram gravados ainda mais duas películas : a Fuga do Planeta dos Macacos e De Volta ao Planeta dos Macacos. Mas só assisti ao primeiro. Lembro da franquia ter virado também uma série televisiva e ter ganho um título de HQ. Cheguei a ter um gibi, da antiga e extinta Editora Bloch, em que o macaco Cornelius dividia a edição com Ka-zar.

E nesse mundo em que vivemos, onde, pelo visto, a Mãe Natureza nos elegeu seus prediletos, haveria alguma chance, nem que fosse num futuro distante, Dela ver a cagada que fez, desistir de nós e contemplar, enfim, outros macacos com os atributos dos quais insistimos em fazer mau uso? Será que neste planeta, um dia, o cetro da hegemonia será passado a outras espécies de primatas?

Absurdo? Pois saibam, meus caros, que isso já está a acontecer. Não em escala global, longe disso, inclusive, mas pontualmente, sim.

Na cidade tailandesa de Lopburi, um exército de 3.500 macacos (aparentemente, babuínos) passou a dominar e a tacar terror nas ruas da localidade. Os macacos transitam livres pelas ruas, a cometerem seus saques e rapinas, e os moradores passaram a viver enjaulados em suas casas. Parcela significativa da população humana chegou a mudar para outras cidades, os que permanecerem construíram barricadas para proteger suas famílias e evitar a invasão de suas casas.

“Vivemos numa jaula, mas os macacos vivem do lado de fora”, disse à AFP Kuljira Taechawattanawanna, moradora de Lopburi. Ela acrescentou que precisa cobrir o seu terraço para evitar que a “multidão” invada a sua casa em busca de comida.

É o MST, o Movimento dos Símios da Tailândia.

A revolta dos macacos começou com a Peste Chinesa, em 2020. Antes da pandemia, Lopburi era um próspero centro turístico que oferecia aos seus visitantes, além de suas belas paisagens e templos, a possibilidade de interagir com os então graciosos macaquinhos. Os macacos rodeavam os turistas, faziam sua gracinhas, suas caretas, suas macaquices, enfim, e recebiam alimentos como recompensa dos turistas abastados, capitalistas e opressores.

Com a Peste Chinesa e o isolamento, o Bolsa-Turista da macacada acabou. A comida fácil, sem precisar pegar no pesado batente de uma selva, acabara. Não havia mais quem lhes desse uma banana a troco de uma momice. O que fizeram os macacos, então? Retornaram ao seu habitat natural? Voltaram a se balançar por quilômetros e quilômetros, de galho em galho, a procurar e coletar frutos, ou a caçar ovos de aves nos ninhos e gordas larvas na madeira podre?

Porra nenhuma! A macacada encomunistou de vez! Revoltados com a sociedade patriarcal simiofóbica, que nunca lhes deu oportunidade de serem alguém na vida, que sempre os explorou econômica e moralmente, os macacos, em uma plenária do sindicato, decidiram organizar o grupo terrorista MST, e saíram a barbarizar pela cidade, a invadir propriedades e furtar alimentos, a reivindicar seus direitos enquanto símios originários. Afinal, a sociedade lhes deve isso.

No início, os habitantes da cidade tentaram estabelecer um armistício e manter os macacos afastados, passaram a lhes fornecer restos de comida e junk food, mas o aceno de paz só piorou a situação. Como estavam dando alimentos muito açucarados aos macacos, isso só os tornou ainda mais hiperativos e com energia de sobra para mais se reproduzirem.

“Os alimentos açucarados podem aumentar a produtividade dos macacos e estimulá-los a reproduzirem-se mais”, disse Suttipong Kamtaptim, do Departamento de Parques Nacionais.

Mais agressivos e doidões e viciados em açúcar, passaram a promover verdadeiros arrastões em busca de alimentos. São os cracudos da sacarose.

É o Planeta dos Macacos. É a Mac(r)acolândia!

O comércio local também fechou suas portas, está praticamente extinto, os turistas evitam a cidade. A Prefeitura teve que estabelecer várias zonas proibidas para humanos na cidade, uma vez que essas áreas foram ocupadas por gangues de macacos rivais que lutam por território.

É a linha vermelha da macacada!

Fosse em outros tempos, tempos governados por machos, o prefeito já teria aberto a temporada de caça aos macacos, oferecido alguns bahts por cada macaco abatido e problema resolvido.

Mas em tempos de tolerância, direitos irrestritos e deveres inexistentes, os criminosos deitam e rolam. Igual aqui no Brasil. Os daqui só não têm rabos – ainda. Mas o Q.I. (de 83) já é o mesmo.

A macacada a tocaiar sua próxima vítima.

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